Clube terá de pagar multa de R$ 30 mil
O Esportivo perdeu cinco mandos
de campo e recebeu uma multa de R$ 30 mil pelos atos racistas contra o árbitro
Márcio Chagas da Silva em seu estádio, no dia 5 de março, na 12ª rodada do
Gauchão. A sanção foi aplicada após mais de quatro horas de julgamento e um
empate na 2ª Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva da
Federação Gaúcha de Futebol.
Dois auditores chegaram a votar
pela exclusão do clube de Bento Gonçalves, mas com o empate o artigo do Código
Brasileiro de Justiça Desportiva que prevê pena mais branda para o réu foi
empregado. O auditor presidente Marcelo de Freitas e Castro votou contra as
penas máximas.
Segundo ele, uma decisão extrema
poderia abrir um precedente perigoso para eventuais casos futuros. Onde clubes
poderiam maquiar atos racistas para retirar pontos e excluir adversários
diretos.
A decisão não altera em nada a
classificação do Campeonato Gaúcho. Em determinado momento do julgamento, o
Esportivo chegou a ser ameaçado com a perda de nove pontos. O que acarretaria
em um rebaixamento matemático, com uma rodada de antecedência. O julgamento ocorreu mesmo sem a
presença de Márcio Chagas, que foi até Brasília se encontrar com a presidenta
Dilma Rousseff. Mas os auxiliares Marcelo Barison e Antônio Padilha
participaram como testemunhas da procuradoria.
A procuradoria pediu perda de
nove pontos, três mandos de campo e mais uma multa de R$ 30 mil. E declinou da
ideia de solicitar a exclusão do clube do Campeonato Gaúcho, cogitada
fortemente logo após os episódios na Serra Gaúcha. Deixando esta punição a
cargo da mesa.
A procuradoria usou a súmula, o
Boletim de Ocorrência e entrevistas do árbitro para pedir punição "severa
e modelo" ao clube mandante. A defesa apresentou vídeos produzidos pelo
Esportivo para alegar que não houve registro de injúria racial. E questionou o
acesso ao estacionamento onde estava o veículo do árbitro.
O julgamento
Com plenário lotado, a sessão
teve uma avalanche de provas. Que foram desde fotos do veículo do árbitro até a
súmula da partida, boletim de ocorrência e reprodução de entrevistas em
emissoras de rádio e matérias em jornais e sites.
O procurador do TJD, Alberto
Franco, reproduziu uma entrevista onde Márcio Chagas chegou a chorar ao relatar
os insultos raciais. A defesa, representada por Alexandre Borba, exibiu vídeos
produzidos pelo clube para argumentar que não houve registro fonográfico de injúria
racial.
A dupla de auxiliares que
trabalhou ao lado de Márcio Chagas na partida, Marcelo Barison e Antônio
Padilha, confirmou a versão apresentada pela procuradoria. Barison, inclusive,
descreveu as reações do árbitro na viagem de volta a Porto Alegre.
"Quando a gente descia para
Porto Alegre ele estava extremamente fechado, parecia que estava refletindo
sobre o ocorrido. A gente parou para jantar e ele falou que não estava com
fome, pediu só uma torrada", completou.
A defesa tentou isolar os autores
das injúrias raciais e também contestar o acesso do estacionamento privado da
arbitragem. A primeira testemunha a favor do Esportivo foi um funcionário da
FGF, apresentado como Alberto, e que era substituto do delegado da partida.
Em seu depoimento ele relatou que
não ouviu gritos racistas contra Márcio Chagas. Os auditores do TJD
questionaram a relevância do depoimento, já que que o funcionário não consta na
súmula da partida. Mas consideraram as palavras.
Depois o advogado do Esportivo
chamou o sargento da Brigada Militar, Luís Ricardo, responsável pelo
policiamento no gramado do estádio. E ele confirmou os insultos racistas.
"Ouvi os insultos normais do
futebol e as palavras macaco e negro ladrão. Ouvi duas vozes diferentes pelo
menos", afirmou o sargento. "Falei com o árbitro e ele disse que não
daria muita atenção a isto, iria citar em súmula. Mas ali, na hora, não quis
registrar queixa", completou.
Na sequência foi chamado o
supervisor do Esportivo, Eduardo Schio. Segundo ele, Márcio Chagas não
demonstrou abalo pelos gritos antes, durante e depois do jogo. Mas ao chegar no
estacionamento e encontrar o carro com avarias chamou testemunhas.
A votação
O relator Paulo Abreu votou pelas
penas máximas ao Esportivo. Perda de seis pontos, seis mandos de campo,
exclusão do campeonato e mais uma multa de R$ 35 mil. O auditor Paulo
Nagesltein baseou seu voto na 'forma técnica e racional' e propôs perda de
cinco mandos de campo e mais multa de R$ 30 mil, sem exclusão e nem perda de
pontos.
Em seguida o auditor Álvaro
Paganotto acompanhou o voto do relator. De acordo com ele, os atos ocorridos em
Bento Gonçalves foram um crime contra a humanidade.
"De nada adianta notas
oficiais vazias e cínicas. Esta chaga tem que terminar. Esta erva daninha se
combate com a lei, que inibe a repetição odiosa", afirmou antes de votar
pela exclusão do clube, perda de seis mandos de campo e mais multa de R$ 30
mil.
Por fim, o auditor presidente
Marcelo Castro pediu parcimônia e empatou a votação ao não acatar a denúncia
com perda de pontos.
"Estamos aqui a julgar a
responsabilidade da agremiação. E a meu juízo seria um precedente perigoso, sem
identificação dos ofensores, punirmos com a perda de pontos ou ainda mais com a
exclusão do clube da competição", determinou.
Fonte: UOL Esporte
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